Ocorreu
na última quarta-feira, 27, o IV Bate-papo no Quilombo São Pedro. Desta vez o
convidado para trocar experiências e ensinar um pouco de sua vivência para a
juventude foi o Senhor Benedito Alves da Silva, o Ditão, do Quilombo
Ivaporunduva. Aos 61 anos de idade, Ditão deu uma
aula a tod@s @s presentes. Falou sobre o processo de ocupação do Vale do
Ribeira pelas comunidades quilombolas que até hoje vivem por aqui; falou sobre
o modo de vida antigamente e na atualidade, a sobreposição das unidades
estaduais de conservação sobre os territórios das comunidades, turismo de base
comunitária, enfim, abordou os mais diversos assuntos relacionados a temática
quilombola. Tal discurso é resultado de mais de 40 anos de experiência no movimento
quilombola, tendo liderado muitas frentes de luta em prol do nosso povo. “No
final de 80 (1980) eu não tinha entendimento sobre África e Brasil. Fui buscar
nos livros, estudar para colocar no meu repertório”, afirma Ditão, sobre a
importância de se buscar as origens do povo negro também nos livros, além da
oralidade transmitida na comunidade cotidianamente.
Ditão relembra que até 1968 não era
asfaltada a rodovia Eldorado- Iporanga, que dá acesso a várias comunidades, e
com isso as pessoas trabalhavam normalmente nas roças, mas “junto com a estrada
veio a lei de parques. Foi o momento em que as comunidades pararam de plantar
por conta da polícia ambiental. Houve êxodo rural grande. Quem foi pra cidade
grande foi para a construção civil e os poucos que ficaram não puderam fazer
roças porque seriam multados”, relata ele. Assim, os que permaneceram na terra
tiveram que ingressar na extração ilegal do palmito juçara para sobreviver,
porém a criminalização não era pra todos os envolvidos, pois “as fábricas eram
legais [legalizadas]; se o palmito
tivesse no caminhão da fábrica poderia ir, mas se o policial pegasse o palmito
com o palmiteiro[pessoa que extraiu o palmito do mato], aí era preso”. Neste aspecto, percebemos que a lei
é para todos, mas não se aplica a todos, pois até os dias atuais a quantidade
de comunidades quilombolas com direito ao território garantido é muito pequena
em relação ao total de quilombos no Brasil todo. “...se a PEC 215 passar, tira
de nós o direito de mandar no que é nosso! É um problema sério para nós”,
afirma Ditão, em relação a Proposta de Emenda a Constituição nº 215 que tira do Executivo e passa para o Congresso a decisão final
sobre a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas
e a criação de unidades de conservação ambiental.
O tema
educação também foi citado e debatido. Afinal, um tema desses deve estar em
todas as discussões de todos os espaços. Para o Senhor Antonio Morato, 66,
morador do Quilombo São Pedro, “Sabemos
que as crianças não sabem toda a história. Precisamos que eles saibam... como
era o modo de vida, as lutas, a nossa história...antigamente não tinha emprego,
nós comíamos do que nós fazíamos aqui: Cará, batata, arroz, feijão, galinha,
porco... Isso mudou e hoje vocês estão saindo para estudar fora, mas esse
histórico vocês não tem que perder”, afirma. Assim, percebemos que os mais
velhos das comunidades veem a importância da juventude estudar e dar o retorno
ao seu lugar de origem, pois “é necessário que os que estão indo para a
faculdade se formem e voltem pra cá [para o
quilombo]. Tenho certeza
que o quilombo vai precisar de vocês aqui. O lugar de vocês é aqui. As pessoas
formadas [com ensino superior] de nossa comunidade mudaram nossa
comunidade...”, afirma Ditão sobre a importância da relação entre o técnico
acadêmico e o tradicional. Para ele, “a história do povo quilombola no Brasil,
o mundo não conhece. O que o mundo conhece do povo brasileiro é aquela história
que é conveniente para os outros aí de fora. A nossa história, a história do
meu avô, dos nossos avós, que é a verdadeira nos foi contada e não está nos
livros”, diz.
O evento contou com pessoas de
várias idades. Desde crianças a idosos vieram para mais um dia de (in)formação
promovido pela Associação Quilombo São Pedro e pelo Grupo Cultural Puxirão Bernardo Furquim. O importante disso é que as comunidades
cada vez mais devem se unir visando sucesso na luta, tendo como bandeira
principal o nosso território, garantido por lei, mas negado a um povo que
construiu um país sob açoites. Assim, o importante é lembrar que “desde a época
dos nossos ancestrais, nossos avós... a terra não saiu das nossas mãos... a
terra é nossa mãe... ela dá tudo o que precisamos: os sapatos, a roupa, a respiração
-- o ar-- a vida, a comida, a água... tudo o que você precisar vem da terra...
Cuidem da terra! E cuidar da terra é... nossa organização, é manter nosso povo
unido, é união. A união faz a força. Nos juntos não perdemos a terra pra
ninguém”, finaliza Ditão sob aplausos dos presentes.
Fotos: Luiz Eduardo de França Dias- Quilombo São Pedro
Essa troca de experiência é demais, muito bom ver que a juventude começa a despertar para conhecer a sua história e o Ditão é uma liderança que tem muito a ensinar, fico feliz em tê-los na minha pesquisa e como uma experiência que deu e está dando certo, uma experiência bastante positiva e falo de vocês sempre com muita empolgação
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