domingo, 19 de setembro de 2021

Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta celebra aniversário de 2 anos

*por Luiz Ketu e Cristina Américo

"A importância do Coletivo e das mulheres estarem reunidas é que uma fortalece a outra. Porque se nós não tivermos organizadas, nós não chegamos em lugar nenhum" (Elvira Morato- Quilombo São Pedro)

  Poderia ser mais um dia comum de um final de semana comum no Quilombo São Pedro, comunidade localizada no município de Eldorado-SP, na região do Vale do Ribeira. Este sábado, 18 de setembro de 2021, foi mais do que especial, pois o Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta celebra seus dois anos de existência. 

Na pauta foram abordados assuntos como a importância de Paulo Freire na educação brasileira, relatos de vivências em tempos de pandemia, importância do setembro amarelo, entre outros. Após a palavra, a partilha foi de alimentos. No cardápio torta e pastel de palmito, bolos, beiju, bolinho de chuchu, broa de milho, bolinho de cara, banana frita, bolinho de chuva, bolinho de mandioca, café, diferentes tipos de chá e suco. Sabores da roça quilombola na mesa, vinda dos saberes das mais velhas.

Neste encontro estiveram presentes 40 mulheres e 16 crianças, das comunidades quilombolas Ivaporunduva, Nhunguara e São Pedro. No entanto, a organização conta também com integrantes dos quilombos Piririca e Galvão. 



Retomando a história…

O Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta, ligado ao Coletivo de Mulheres da Coordenação Nacional de Quilombos (CONAQ), surge no ano de 2019 como organização intercomunitária visando o enfrentamento ao machismo, racismo e todos os tipos de preconceito que atingem mulheres quilombolas dentro e fora de seus territórios.

Após mais de 17 anos invisibilizadas nos movimentos sociais e impactadas por um período curto de suicídios de jovens dos territórios, agricultoras, professoras, doutoras em educação, pedagogas, artesãs, universitárias e mestras dos saberes ancestrais quilombolas passaram a se reunir mensalmente com o intuito de partilhar vivências, estudar autoras como bell hooks, Angela Davis, Carolina de Jesus e elaborar táticas de fortalecimento e defesa dos territórios quilombolas. "Primeiramente nós lutamos muito pelo nosso território. (...) Também pela saúde, escola, estrada boa. Só que teve uma hora que precisamos parar e pensar no que ainda precisamos lutar para adquirir os direitos das mulheres negras, das mulheres quilombolas e das mulheres agricultoras", aponta a quilombola Elvira Morato, da comunidade São Pedro e integrante do coletivo. 

Sem fontes de financiamento, já ocorreram vezes das mulheres irem caminhando de uma comunidade a outra para participarem dos encontros. As associações de cada território, cedem o espaço físico e estruturas locais, apoiando a iniciativa. Fortalecer a organização das mulheres é fortalecer o território coletivo. 

Os dois anos parecem pouco, mas são somente a consolidação das lutas de mulheres como  Roza Machado, Maria Mereciana, Nizete e muitas outras que se foram, mas continuam presente em cada momento da resistência comunitária. É a continuidade da resistência ao racismo, machismo, racismo institucional, homofobia, racismo ambiental e tantas outras formas de opressão impostas a essa parte da população, cujos ancestrais construíram essa nação.


Vida longa ao Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta!

Que continue inspirando mulheres e homens de dentro e de fora dos territórios quilombolas a lutarem contra as opressões!

Sigamos na luta! 


Saiba mais em:

YouTube Mulheres quilombolas Na luta

Fotos: Letícia Ester de França 📸

* Luiz Ketu- Luiz Marcos de França Dias é do Quilombo São Pedro, capoeira, docente de escola pública, mestre em educação, pesquisador e membro do Coletivo Nacional de Educação da CONAQ.  
* Cristina Américo- Márcia Cristina Américo é do Quilombo São Pedro, articuladora do Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta, integrante do Coletivo Nacional de educação e Coletivo Nacional de Mulheres da CONAQ. Docente de escola pública, pesquisadora, mestra e doutora em educação.