“É
necessário 365 dias de Consciência humana e não apenas 1 dia de Consciência Negra”
Devemos ter Consciência todos os dias! Consciência Humana! Frases utilizadas quando trata-se do Dia da Consciência Negra... Bem, iniciemos com outros questionamentos: Quando
falamos de África nesses outros 364 dias?
Quando
refletimos sobre a desvalorização do povo negro no Brasil ?
Quem
tem estátuas? Manoel Balaio?... Negro Cosme , que liderou mais de 3 mil
escravizados? É Antonieta de Barros, a primeira deputada Estadual negra? É
Zumbi dos Palmares? É Luiza Mahin, líder na revolta dos Malês? É Mãe Menininha,
importante líder na luta contra a intolerância religiosa? É a escritora
Carolina Maria de Jesus? Ou é o Marechal Duque de Caxias, que liderou o
massacre durante a “Revolta da Balaiada” (1838-1841)? Quem tem estátuas por aí?
Quem dá nomes a cidades e bairros ? Quem é patrono do exército brasileiro?
Quem? Quem era o Borba Gato? A quem atribuímos a história deste município (Eldorado-SP)?
Aos quilombolas ou aos exploradores? A quem?
Sabiam
que “Só 0,9% dos novos médicos de SP é
negro.”? Isso mesmo...
menos de 1%... A cada 100 novos médicos formados em SP, temos 99 brancos e só 1
negro...
Sabiam
que “Não há calouros pretos em 6 dos 10 cursos mais concorridos da Fuvest”? Isso mesmo... há pouquíssim@s negr@s na melhor universidade deste país...
Será
que o aluno da periferia tem as mesmas condições de acesso a universidade como
aquele que mora no centro de São Paulo? O da periferia é menos inteligente?
Não... faltam-nos oportunidades!
Será
que o jovem negro da escola quilombola está em mesmas condições de entrar na universidade
que um morador de cidade grande, ou até mesmo um morador do centro deste
município? Mesmo tendo capacidade e força de vontade será que a merenda que as
vezes falta, assim como o ônibus não influenciam? (Lembram alun@s perderam a
prova do ENEM porque a prefeitura disse que mandaria ônibus mas ele não apareceu...)
Nem vou falar do acesso a Internet (onde se viu uma escola com menos de 1MB de
conexão...)
Sabiam
que aproximadamente 3/4 da história foram vividos sob regime escravocrata?
Consciência
humana? Como assim? Pensamos nisso nos outros 364 dias do ano?
Sabiam
que de 2003 para 2014 o número de homicídios na população branca diminuiu 26% ?
Enquanto no mesmo período aumentaram as mortes de negros em 46% ???
Sabiam
que isso equivale a mais de 80 assassinatos de pessoas negras por dia?
Quanto
vale um corpo negro? Hein ? Por que todos se comoveram com os ataques ao jornal
Charlie Hebdo gritando “Jesuis Charlie ” e mudando a
cor do facebook pós ataques na França mas não se comoveram da mesma forma quando
policiais deram 111 tiros matando 5 jovens em Costa Barros- RJ? Quanto vale uma
vida? Quanto vale um corpo negro?
E
na TV? Onde estão os negros ? E as negras? Por que a Consciência humana não
fala mais alto? Hein?
Por
que a capoeira só é lembrada no 13 de maio e no 20 de novembro como algo
exótico? Por que ?
Você
já parou pra pensar que em 1888 foi assinada a Lei Áurea e só 1988 tivemos uma
lei (Constituição Federal) de reparação e que até hoje não é cumprida? Isso
mesmo... 100 anos sem nenhuma lei de reparação histórica que seja equivalente aos impactos causados pelo processo de escravização. Mesmo com o Artigo
68 da Lei maior deste país, regulamentado pelo Decreto Federal 4887/03, garantindo a demarcação de terras quilombolas e sua
titulação, muito pouco foi realizado. Cálculo feito por Fernando Prioste, da organização Terra de Direitos, mostra que no ritmo de demarcação atual, o INCRA demoraria 970 anos para demarcar todos os territórios quilombolas deste país.
Estas
são as reflexões de um jovem que carrega nas veias o sangue de construtores e
construtoras deste município (Eldorado-SP)... deste país e que foram jogad@s
sem direito nenhum a indenização... Resistência !!!
Viva
20 de Novembro! Viva Zumbi dos Palmares! Viva Maria Mereciana! Viva Dandara! E enquanto
não existir Consciência Humana, Consciência Negra SIM!
Texto lido dia 18 de Novembro de 2016 durante a celebração do Dia da
Consciência Negra na Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa, no Quilombo
André Lopes
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