*por Luiz Ketu, com colaboração de Cristina Américo
(...)"Com fé, força e
ardor
com muita união,
por isso é que eu digo:
lutar sempre em mutirão.
Quilombola sempre foi soldado
que cedo ao trabalho sai
cuida do seu roçado
não pode descuidar
tudo tem tempo marcado
na hora de plantar.(...)"
com muita união,
por isso é que eu digo:
lutar sempre em mutirão.
Quilombola sempre foi soldado
que cedo ao trabalho sai
cuida do seu roçado
não pode descuidar
tudo tem tempo marcado
na hora de plantar.(...)"
O
trecho do poema de dona Leonila Priscila da Costa Pontes, do Quilombo Abobral
Margem Esquerda, município de Eldorado-SP, extraído do Livro Roça é vida, dava boas-vindas
às mulheres e crianças no Centro de visitantes do Quilombo Ivaporunduva.
Juntamente ao escrito, estavam expostas no mural fotos de Petronilha Dias, Nisete
Rodrigues da Silva e Aristides de França, homenageando as lideranças que
fizeram sua passagem e deixaram seu legado. Plantaram as sementes, que hoje
crescem, florescem e continuam dando bons frutos.
Por volta das 13h15 do dia 23 de outubro, um
sábado ensolarado após dias seguidos de chuva, o ônibus chegou trazendo mulheres
dos Quilombos São Pedro e Galvão. Aos poucos foram chegando também mulheres dos
Quilombos Nhunguara, Sapatú, André Lopes, Porto Velho, Piririca e Ivaporunduva,
que sediou o evento. O movimento é organizado pelas mulheres dos territórios, após mais de uma década de "invisibilização" da temática por parte de diversos segmentos e organizações.
Na pauta do encontro, foram partilhadas discussões sobre as “Bases legais da
Educação escolar quilombola”, apresentadas por Viviane Marinho Luiz, do Quilombo
Ivaporunduva e Márcia Cristina Américo, do Quilombo São Pedro; ambas possuem
doutorado em educação e são docentes de ensino fundamental em suas respectivas
comunidades. Pensar sobre esse tema é refletir sobre táticas de fortalecimento
e emancipação do povo quilombola. No contexto das comunidades do Vale do
Ribeira-SP a educação deve ser pautada nos saberes da roça de coivara
quilombola, pois ela não reflete somente a produção de alimentos, o que por si
só seria suficiente, mas deve ser concebida como a base do aprendizado das
crianças e jovens nas instituições escolares; por isso, o coletivo Mulheres Quilombolas
na Luta defende a importância da roça, numa intersecção com a educação escolar.
Como nas reunidas e puxirões não podem faltar
o alimento, ao final do encontro a partilha aconteceu. Em lugar de refrigerante, os sucos de frutas da época. Os pães e sanduíches, comumente vistos em festas e
eventos mundo afora, por aqui não são figurões, e em seus lugares o cará, a
mandioca, o taiá, a torta de palmito e outros alimentos são apreciados. Comer
também é um ato político! A semente ou muda, plantada por essas mulheres, se transformou
numa planta, cuidada, cultivada, no tempo certo, colhida, agora preparada para ser
partilhada! O poema do início nos diz que “tudo tem tempo marcado/ na hora de plantar”,
mas não versa sobre a colheita, que é aqui e agora, onde colhemos os frutos de Petronilha,
Nisete, Aristides e tantas outras e outros, mas também semeamos para as
próximas gerações.
Saiba mais em:
YouTube Mulheres quilombolas Na luta
Fotos: Letícia Ester de França 📸
* Luiz Ketu- Luiz Marcos de França Dias é do Quilombo São Pedro, capoeira, docente de escola pública, mestre em educação, pesquisador e membro do Coletivo Nacional de Educação da CONAQ.
* Cristina Américo- Márcia Cristina Américo é do Quilombo São Pedro, articuladora do Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta, integrante do Coletivo Nacional de educação e Coletivo Nacional de Mulheres da CONAQ. Docente de escola pública, pesquisadora, mestra e doutora em educação.
Emocionada com a matéria.Ubuntu!
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