domingo, 16 de setembro de 2018

“A luta é permanente pela terra”


Por Luiz Ketu* 


        Na última sexta-feira, 14 de setembro, o Grupo Cultural Puxirão Bernardo Furquim e a Associação Quilombo São Pedro promoveram o 5º encontro de uma série de Bate-papos, que vem ocorrendo na comunidade, com o intuito de formação. Intitulado “Transmissão de saberes tradicionais”, o evento contou com os relatos de experiência de Dona Elvira Morato e Seo Antonio Morato, que falaram de trabalho, modos de vida, lutas e resistência pela terra, escola, entre outros assuntos. Seu Antonio Morato ao falar das roças e maneira de trabalhar pontuou: “Desde a barriga da minha mãe eu já ia para a roça. Os homens trabalhavam bastante e as mulheres acompanhavam eles no trabalho... e as crianças também”, diz A. Morato.
Já a Dona Elvira ressaltou a necessidade de defendermos sempre o território, pois segundo ela “A luta é pela terra, sem a terra onde eu vou morar? A luta é permanente, passe o que passar, é pela terra!”, afirma E. Morato. Entre o desejo de comprar uma caneca de ágata quando jovem e anseios contemporâneos, ela almeja “que os mais velhos e os mais novos não percam a esperança na comunidade. A terra é nossa! Procurem conhecer a história” finalizou Dona Elvira, ressaltando a importância dos mais jovens conhecerem a história dos antepassados, para manutenção da cultura quilombola.

Trocando conhecimentos

  A cada edição do evento duas pessoas são convidadas a partilhar conhecimentos e experiências com a comunidade. Já se debateram temas como acesso a universidade, cotas raciais, Adin 3239, território quilombola, Leia Áurea, Meio ambiente, entre outros, com a presença de universitários, professores, doutores e mestres da tradição oral. Tais encontros formativos fazem parte do rol de atividades do Grupo Cultural Puxirão Bernardo Furquim, que também realiza oficinas de capoeira, percussão, teatro e danças brasileiras diversas, para crianças e jovens da comunidade.


* Luiz Ketu (Luiz Marcos de França Dias) Líder comunitário, militante da temática negra com foco em Educação Escolar Quilombola, membro do Conselho de Educação Escolar Quilombola da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, Professor de Educação Básica da Rede Pública Estadual e Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba/UNIMEP)

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Associação Quilombo São Pedro realiza Bate-papo com o tema "Reflexões sobre o treze de maio"



No último dia 14 de Maio de 2018 ocorreu o IV Bate-Papo no Quilombo São Pedro. Promovido pelo Grupo Cultural Puxirão Bernardo Furquim, com apoio da Associação Quilombo São Pedro, o evento é parte de uma série de encontros que focam a formação da comunidade em geral. Crianças, jovens, adultos e idosos da comunidade se fizeram presentes para trocas de informações e conhecimentos acerca do tema “Reflexões sobre o treze de maio”. Também estiveram presentes as professoras Tania Américo, Viviane Marinho Luiz, Doutora em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, residentes do Quilombo Ivaporunduva; Laudessandro Marinho da Silva e Cristiano Furquim, graduados em Administração, também da comunidade vizinha.
Os trabalhos foram mediados através de apresentação realizada sobre principais dispositivos legais/históricos que contribuíram para a marginalização do povo negro no Brasil, resultando na ausência de reconhecimento de direitos territoriais, elevada taxa de homicídio—sobretudo de jovens, racismo ambiental, entre outros. As discussões ainda contaram com importantes contribuições e direcionamentos de integrantes intelectuais do próprio Quilombo São Pedro como a professora Márcia Cristina Américo, Doutora em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba; Vanessa de França, Daniela Joana de França e Elizete de França Dias, estudantes do curso de Pedagogia. 

Na ocasião fora ressaltada a importância e necessidade de conhecermos a nossa história, a real história do povo negro quilombola, que no Brasil fora deturbada em função da história contada pelo colonizador que até hoje é tida como verdade para muitos. O “Treze de Maio não é pra se comemorar, mas para refletir sobre as mazelas do nosso povo negro e os reflexos de uma abolição inacabada”, disse Márcia Américo. Neste sentido, o evento indicou várias possibilidades para outras discussões como racismo, democratização da mídia, direitos territoriais, troca de conhecimentos tradicionais, educação escolar quilombola entre outros.
Neste momento de caça aos direitos de minorias que o Brasil vem atravessando é essencial a manutenção das comunidades tradicionais. Elas são as principais responsáveis pela salvaguarda e continuidade da história, esperança e resistência, através dos modos de viver, se relacionar e preservar os recursos naturais; passados de geração em geração, daí a importância do encontro entre saberes/conhecimentos acadêmicos/ científicos e tradicionais. Visando isso, a maioria dos participantes do encontro sugeriu que as/os próximas/os expositoras/es sejam os nossos mais velhos, que tem muito a nos ensinar.
Fotos: fonte própria



* Luiz Ketu  (Luiz Marcos de França Dias- Líder comunitário, militante da temática negra com foco em Educação Escolar Quilombola, membro do Conselho de Educação Escolar Quilombola da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, Professor de Educação Básica da Rede Pública Estadual e Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba/UNIMEP)